Mudanças Banais*

segunda-feira, 25 de abril de 2011
_Pontilhado em Negrito
Por Carol Rodrigues


Olha mais uma vez. Repara que ela não usava essa franja antes? Repara que é um isqueiro no bolso? Lembra que ela não costumava fumar?
Aposto que você nunca tinha visto ela de batom antes. Nem com o olho pintado desse jeito estranho. Essa maquiagem tipo máscara. Esconderijo.
Olha mais uma vez. Repara no jeito que ela segura aquela taça de vinho? Percebe como ela finge entender o que está pedindo ao garçom?
Repara nesse jeito de atriz aposentada, olhando para o palco com o olhar lânguido, reparando no pouco talento das jovens imaturas dançando qualquer coisa de Noel Rosa. Qualquer coisa sobre a Vila, samba e bamba. Repara nesse jeito de quem preferia ouvir Chico Buarque?
Ela é o silêncio discreto no meio de uma platéia de gargalhadas.
É a cantora lírica que perde a voz na véspera da estréia. A bailarina que quebrou o pé. A dissonância...
Repara como segura forte nas mãos de quem só quer tocá-la por uma noite? Por algumas horas?
Repara nos olhos vermelhos de tanto chorar? E na boca trêmula de tanto rir? Repara que ela não usava esse cabelo assim?
Que usava marias-chiquinhas e tinha os joelhos ralados, os pés metidos em sapatilhas e vestido rodado?
Repara no tamanho desse salto fino. Nesse taiêr bem alinhado. No celular sempre ocupado.
Repara como ela desperdiça sua criatividade? Sempre por aí dizendo coisas incríveis a quem não consegue entender ironia e nem metáfora? 
Olha mais uma vez e repara se esse jeito de ficar quieta não é o ponto onde ela se cansa e de repente muda tudo.
Olha mais uma vez, repara em tudo, porque amanhã ou depois, é provável que ela mude.
E você não a reconheça mais quando a procurar.
Mas o que ela precisava mesmo aprender, é que não importa o que ela faça, eu não preciso dela para saber quem eu sou. Mas talvez seja exatamente isso que ela não queira compreender. Por isso sempre muda quem parece ser. Mas nada disso aparece estampado nas revistas penduradas nas bancas de jornal.

Talvez seja tal e qual, um tanto quanto banal.



*Texto baseado na música "Menina-Moça" (Móveis Coloniais de Acaju)



6 comentários:

Tânia Macedo disse...

Quanto que essa tal de Carol Rodrigues aí vai publicar um livro? Hein?

:)

Tânia Macedo disse...

Quando*

Anônimo disse...

Nossa me identifico com a fase atual da minha vida


Visite quando puder

http://verdorinvisivel.blogspot.com/

Beijos

Aline disse...

belo texto, muito bem escrito, GOSTEI! Parabéns ;)

Unknown disse...

beleza esse texto ein. bjão

Carol Rodrigues disse...

Obrigada, Seus lindos!
É sempre um prazer escrever aqui =D

bjos =**

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