“inter-relacionar”

quarta-feira, 4 de maio de 2011
_mobiliarte
por Renata Luna



inter-relacionar in.ter-re.la.cio.nar (inter+relacionar) vtd  1 Pôr em relação mútua; relacionar duas ou mais coisas entre si. vint e vpr 2 (...).

Cá estamos, no segundo post da coluna mobiliarte e vale dizer que o assunto a ser discorrido aqui surgiu depois de eu ter passado o último feriado em Brasília. Até então eu não conhecia a capital federal – o que sempre achei uma vergonha por conhecer outras capitais do mundo e nunca ter ido à do meu país – e posso dizer que me encantei.

Estar lá deu muito sentido, por exemplo, às fotos que o Paulo tuita com o “céu de Brasília” ainda mais pra mim que sou de/moro em São Paulo e, a partir daí, do céu, do estar em um lugar por menos de 24hs e estar tão confortável que a noção de tempo se perde e da noção de espaço/tamanho é que eu começo meu texto.

A plataforma de expressão artístico-cultural de hoje será a fotografia e talvez por isso poderiam pensar que a faixa escolhida seria “Falso Retrato”¹, mas na verdade os trechos que ilustrarei são:

O tempo engatinhar | Do jeito que eu sempre quis | Se não for devagar | Que ao menos seja eterno assim | (...) | O tempo engatinhar | Do jeito que eu sempre quis | Distante é devagar | Perto passa bem depressa assim²

Há um – também – teórico da fotografia³ que em um de seus textos fala da relação do tempo e suas representações na fotografia que, geralmente, é associada somente ao espaço, que de fato é uma reação mais imediatista olhar uma fotografia e falar que foi tirada em “tal” lugar. Mas e o tempo? Só dizer que ela foi tirada em algum momento específico do passado não é o bastante. É esta inter-relação entre o espaço e o tempo nas fotografias que vou tentar mostrar aqui para vocês.
         
          Deixando de lado as nomenclaturas “formais”, e de forma simplificada, começo falando daquelas fotografias que muitas vezes falamos que saíram ruins porque olhamos e vemos um borrão. Na verdade, esse borrão é o tempo inscrito na imagem. Sabe aquelas fotos que você tira e sai o rastro das pessoas ou de um objeto? Então, é destas fotografias que estamos falando, nas quais temos a pessoa/o objeto sendo registrada(o) em diferentes espaços e em tempos diferentes. Ou seja, não, estas fotos não estão erradas nem saíram “ruins”, elas podem até dizer muito mais do que uma foto congelada e nítida:






Talvez fique mais fácil de entender quando você olha suas fotos do último show do Móveis e bem naquela foto que você tirou do Xande dando um baita pulo ele saiu borrado, quando na verdade você queria que ele ficasse congelado no ar! Mas olha novamente que talvez você possa ver o caminho que a perna dele percorreu ou movimento do cabelo e isso pode ser até mais interessante do que ter o Xande paradinho longe do chão.


          Congelar não é fácil mesmo, ainda mais nos ambientes escuros dos shows. Nas fotos em que conseguimos, temos o que chamamos de foto instantânea e que só foi conquistada no final do séc XIX. Nelas, apesar de o tempo ter sido retirado da imagem pela instantaneidade a própria ausência faz com que você faça referência a ele inter-relacionando novamente ao espaço na composição fotográfica.

          É o tipo de foto divertida que muito provavelmente você que está lendo já tirou com seus amigos, ou em alguma viagem diante de um monumento famoso ou, quem sabe, do seu gato enquanto seu primo o jogava para o ar no meio da sala da sua vó!
         
Mas, quase certeza mesmo, é que você tenha aí uma foto em que o André aparece em um movimento corporal quase indecifrável que você não sabe como começou nem como termina, mas sabe que ele estava executando suas danças malucas. E aí que esta a mágica deste segundo “grupo de fotografias”, as que conseguem registrar de forma instantânea uma expressão natural sendo que antes, para não haver borrão as pessoas tinham que ficar completamente paradas, posando e por bastante tempo.

          Olhar uma fotografia, ao contrário de ver uma cena de um filme ou de um programa de tv onde coisas acontecem em uma sequência que foge ao controle do espectador, nos permite dedicar o tempo que quisermos para analisar, apreciar, absorver, tentar entender a relação espaço x tempo que se tem à frente e tudo isso pode ser muito bacana.

“Que ao menos seja eterno assim”, talvez essa era sua intensão no momento do clique. Pegue algumas fotografias que estão guardadas há muito tempo e que você nem lembrava direito que as tinha tirado, daquelas que você tem em papel mesmo, espalhe no chão, dê play em “O Tempo” e se perca nesta relação espaço x tempo.







 Até o próximo post!
@dlfmrenata

¹ Móveis Coloniais de Acaju, 2009. | ² Trecho da letra de O Tempo, Móveis Coloniais de Acaju, 2009. | ³ Mais sobre Ronaldo Entler e seus textos em: http://www.entler.com.br. | Imagens (por ordem de apresentação no post): William Kleim. Metro, Tokio, 1961; Jacques-Henri Lartigue. Grande Prêmio do Automóvel Clube da França, 1912; Philippe Halsman. Halsman e Marilyn Monroe (Jump Book), 1959; | fontes: http://michaelis.uol.com.br | http://www.studium.iar.unicamp.br/18/03.html – texto O corte fotográfico e a representação do tempo pela imagem fixa, 2007. 



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